Ouça Ao Vivo

30 de abril de 2025 19:46

Carregando...

Dia Mundial da Educação: UFFS celebra formatura da primeira haitiana e primeira indígena em Realeza

às
Julio Cesar Alves
Foto: Assessoria

Em sintonia com os compromissos globais do Dia Mundial da Educação (28 de abril), que reforça a necessidade de uma educação inclusiva e de qualidade, a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Realeza celebra a conquista de duas estudantes: Roselaure Occeus, imigrante haitiana e que concluiu o curso de Ciências Biológicas, e Carine da Silva indígena do povo kaingang formada em Letras Português e Espanhol. Ambas ingressaram nos cursos da UFFS por meio de políticas afirmativas que democratizam o acesso ao ensino superior para imigrantes e povos indígenas.

Em entrevista, as duas compartilham suas trajetórias até a conclusão da graduação, destacando a determinação, a resiliência e como essa conquista gera impactos positivos para as comunidades que representam.

“A perseverança é fundamental para alcançar nossos objetivos”
Natural de Porto Príncipe, capital do Haiti, Roselaure Occeus chegou ao Brasil em 2018, depois de uma breve passagem pelo Chile. Os planos de cursar o ensino superior sempre estiveram na bagagem, desde que saiu de seu país natal em razão da instabilidade política, desastres naturais e condições socioeconômicas difíceis. Foi através do Programa de Acesso à Educação Superior para Estudantes Haitianos da UFFS, hoje chamado de Pró-Imigrante, que Roselaure ingressou no curso de Ciências Biológicas.

Durante o percurso, a estudante enfrentou desafios comuns a quem se aventura em um novo país, como a superação da barreira linguística, o preconceito e a inserção no mercado de trabalho. “Minha adaptação foi difícil no início, mas no final deu tudo certo, com o apoio dos professores, das monitorias e dos cursos de português oferecidos pela universidade”, lembrou.

Roselaure é a primeira de sua família a concluir o ensino superior. A colação de grau ocorreu no mês de março e a conquista foi comemorada ao lado do noivo Ancelot Desir e demais integrantes da família. Entre os planos para o futuro está incluso trabalhar na área da Biologia, fazer uma especialização e até cursar uma nova graduação: Gastronomia. “Minha conquista é enorme. Sempre sonhei em fazer um curso superior e espero deixar a mensagem de que não devemos desistir dos nossos sonhos, mesmo quando o caminho é desafiador. A perseverança é fundamental para alcançar nossos objetivos”, finalizou.

“Minha formatura é uma conquista do meu povo”
A trajetória de Carine da Silva também é marcada pela resiliência e pelo compromisso com sua a Comunidade Indígena Cagrê, localizada na cidade de Planalto. Como primeira estudante indígena a se formar no Campus Realeza, ela conta como a educação tem um papel importante na valorização da cultura e dos direitos dos povos indígenas. “Minha comunidade sempre foi minha força. Desde pequena, aprendi que o conhecimento é uma arma poderosa para fortalecer nosso povo. Como professora, levo adiante nossa língua e nossos saberes, ajudando os mais jovens a se reconhecerem em sua identidade e a lutarem pelos seus direitos”, destacou.

Ao ingressar no curso de Letras – Português e Espanhol pelo Programa de Acesso e Permanência dos Povos Indígenas (PIN), Carine queria estar preparada para ensinar, para preservar e valorizar também a língua Kaingang, base de sua resistência. A estudante superou diferentes barreiras, a mudança para Realeza, a falta de oportunidades de trabalho e dificuldades financeiras. “A maior delas foi lidar com a perda de pessoas queridas no meio da caminhada. Durante meus estudos, perdi meu avô e minha tia, e isso pesou muito. Além disso, precisei me mudar para Realeza por um tempo, o que trouxe desafios ainda maiores. Mas resisti, porque sabia que cada dificuldade superada era um passo a mais para alcançar”, enfatizou.

A colocação de grau de Carina foi em gabinete, uma cerimônia mais reservada, e para ela a conquista do diploma é algo coletivo: “Não cheguei aqui sozinha, trago comigo a força da minha família, dos meus ancestrais e da minha comunidade. Cada indígena que se forma abre caminho para outros. Essa vitória não é só minha, é do meu povo. É uma retomada, porque a educação também é um território que precisamos ocupar”.

UFFS e o compromisso com a educação transformadora
As políticas afirmativas de acesso ao ensino superior na UFFS para os povos indígenas e para imigrantes são um importante fator de promoção e proteção dos direitos, do respeito à diversidade e à interculturalidade. A conquista das mais novas formandas do Campus Realeza representa como a educação é um importante papel de transformação social, conforme explicou o diretor do Campus Realeza, Marcos Antonio Beal.

“Este é um momento histórico para o Campus Realeza, que tem a honra de formar, pela primeira vez, uma imigrante haitiana e uma indígena do povo Kaingang, ambas mulheres, que simbolizam a força, a resiliência e o poder transformador da educação. A UFFS tem se destacado na promoção de políticas afirmativas, como o Programa de Acesso e Permanência dos Povos Indígenas (PIN) e o Pró-Imigrante, que são fundamentais para combater as desigualdades históricas e garantir o acesso ao ensino superior para aqueles que, historicamente, dele foram excluídos. O sucesso dessas alunas não é apenas delas, mas de suas comunidades e de todos que acreditam no poder da educação como ferramenta de transformação social”, defendeu Beal.

Este ano, o Programa de Acesso e Permanência dos Povos Indígenas (UFFS) completou 12 anos de existência. Além disso, a instituição conta com 724 estudantes indígenas matriculados e que ocupam vagas nos cursos de graduação em seis campi da UFFS, nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Já o Programa de Acesso e Permanência a Estudantes Imigrantes (Pró-Imigrante) é mais recente, criado em 2019 a partir do Pró-Haiti. O número de estudantes imigrantes chega a 205. Boa parte destes estudantes estão matriculados no Campus Chapecó.

O processo de seleção para o PIN é feito a partir da análise de histórico escolar (notas em Português e Matemática). O Pró-Imigrante considera a avaliação de uma Carta de Intenções e entrevista em português, com foco em motivações acadêmicas do candidato.

Além disso, a UFFS oferta aos estudantes bolsas permanência e monitorias de ensino, voltadas a oferecer apoio didático-pedagógico para inserção acadêmica. Os estudantes indígenas, quilombolas e migrantes podem contar ainda com o apoio de diferentes espaços, como o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI), assim como das comissões do PIN e Pró-Imigrante.

Nas fotos, Roselaure Occeus, imigrante haitiana e que concluiu o curso de Ciências Biológicas, e Carine da Silva indígena do povo kaingang formada em Letras Português e Espanhol.

Fonte: Assessoria

Picture of Julio Cesar Alves

Julio Cesar Alves

Jornalista

Veja também

Regional
Esporte
Geral
Geral
Regional
Regional
Policial
Geral

Em Alta

Geral
Policial
Regional
Regional
Esporte
Geral
Ampére
Regional
Geral