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Casal de beltronenses fica preso mais de dois meses injustamente

A história que você vai ler a seguir parece enredo de filme de ficção, mas é real e aconteceu com um casal de beltronenses. No dia 30 de outubro de 2020, Wellington Santos Moura, 24, e a esposa, Patrícia Varela, 25, saíram de Francisco Beltrão com destino a Marília, no interior de São Paulo, para comercializar uma cera líquida veicular, que é vendida nos postos de combustíveis. Chegando próximo a Campo Mourão, região Centro-Oeste do Paraná, foram parados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF). A abordagem, que parecia uma simples checagem de rotina, demorou cerca de três horas e meia.

Era um dia de muito frio, por volta das 15h40, e os dois ficaram aguardando o tempo todo dentro do carro, uma Saveiro, carregada com cerca de 800 frascos de cera. “Sem entender o que estava acontecendo, bati por várias vezes na guarita atrás de resposta, mas sem obter resultados. Então, eles vieram até nós e pediram que os acompanhassem até a delegacia de Campo Mourão. Ainda sem entender achei que poderia ser apenas alguma coisa errada com o carro, Ipva, sei lá, a gente imagina tudo, menos que seria preso acusado de tráfico de drogas”, conta Wellington. Sem nota fiscal da mercadoria, passaram a ser vistos como suspeitos de alguma ilicitude.

Ao chegar na delegacia, os policiais informaram que na composição da cera líquida havia o que eles chamaram de “pasta base” para cocaína. A constatação se deu após aplicarem um teste com um reagente químico que indicou a “cor azul”, ou seja, positivo para cocaína. “Sendo que esse teste não foi apresentado a mim ou minha esposa e, no dia seguinte, muito menos à minha advogada, coisa que deveria ser feita em nossa presença.”

O que era para ser um dia normal
O que seria um dia normal de trabalho se tornou um pesadelo. A vida do casal virou de ponta-cabeça. Foram levados para a prisão onde ficaram encarcerados por mais de dois meses em meio a outros presos. “Eu, por ser natural do Rio de Janeiro, e pelo meu sotaque diferente, também acho que, pela parte deles (policiais), houve uma desconfiança pela minha cor e de onde eu era natural, não seria racismo ou até discriminação? E por que não apresentaram o teste se tinham tanta certeza que era droga?”
Na delegacia, Wellington e Patrícia foram ouvidos pelo delegado de plantão, por videoconferência, e receberam voz de prisão. “Alegamos que éramos inocentes, mas os próprios policiais ironizaram ‘na cadeia só tem inocente’. Sem saber o que dizer só baixei a cabeça, pois nada do que eu falasse eles iriam ouvir.”

A realidade das prisões brasileiras
Wellington foi para uma cela (um pequeno quadrante) e ficou sozinho os três primeiros dias. “Entre meio às baratas, ratos, sem ter nem um pedaço de espuma pra sentar, só o que tinha era aquele chão sujo, fedor nem se fala, sem nenhum tipo de higiene, nem banheiro tinha.” A esposa foi para uma ala feminina. Depois disso, ele foi levado para o convívio com outros presos e seu pavor só aumentou. “Senti muito medo por ser natural do Rio, onde há rivalidade entre facções criminosas, que comandam o tráfico de drogas daqui. Já que tinha saído nos jornais locais que eu tinha sido preso com mais de meia tonelada de cocaína. Então mesmo dizendo que eu era inocente tinha a desconfiança que eu poderia ser membro de uma facção rival, sendo que eu sou apenas um vendedor.”

Medo de dormir e não acordar
Wellington disse que tinha noites que não dormia, com medo de sofrer algum tipo de violência ou até ser morto. “Lá eu peguei o vírus da Covid-19 e, como eu me encaixo no grupo de risco por ter bronquite desde criança, tinha medo de morrer, já que as condições de higiene não eram das melhores pra quem estava doente.” Wellington falou que teve que se adaptar a muitas coisas para sobreviver dentro da realidade das cadeias brasileiras. “Na cela, por exemplo, não tinha vaso sanitário, era o padrão do banheiro chinês, apenas um buraco no chão que eles chamavam de ‘boi’. Por várias vezes a comida não estava bem cozida. Sinceramente se existe inferno lá era o lugar!”. A cadeia estava superlotada.

Mais de dois meses presos
Eles ficaram 69 dias presos, aguardando o resultado do teste na cera automotiva, que foi feito pela Polícia Científica do Paraná, e constatou que não havia qualquer indício de cocaína em sua composição. “O resultado saiu no dia 7 de janeiro onde imediatamente nos liberaram. Desnorteados, ainda com o que tinha acontecido começamos outra batalha, a soltura de nossos bens, do carro e dos produtos.” No dia 12 de abril o carro foi liberado e no dia 26 deste mês os produtos de limpeza. “Olha quantos dias ficamos sem poder trabalhar por causa de tanta burocracia, mesmo depois de sermos absolvidos, com comprovação de que éramos inocentes.”

Fonte e foto: Niomar Pereira/Jornal de Beltrão

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