Alcinda Marques dos Santos comemorou ontem 100 anos de idade. Ela é a aluna da Educação de Jovens e Adultos (EJA) mais idosa do Paraná. Professores e colegas se reuniram no Caic para fazer uma homenagem, que contou com a presença da secretária de Educação Mariah Ivonete Silva e do prefeito Cleber Fontana.
Dona Alcinda chegou acompanhada da filha Marilena, 47 anos, da neta Kauane, 21 anos, e da bisnetinha, Ohana Vitória, 4 meses. Ela conversou rapidamente com a reportagem do JdeB, disse que está afastada das aulas presenciais por motivo de saúde, mas a professora continua levando as atividades para ela estudar em casa.
A aposentada é natural do Rio Grande do Sul, de uma família de seis irmãos, apenas os quatro meninos puderam ir na aula. Ela e a outra irmã não frequentaram a escola enquanto crianças, simplesmente porque eram mulheres.
“Os meninos iam a cavalo e eu e minha irmã tivemos que ficar em casa. Eu nunca mais achava que ia estudar, então quando a gente veio embora de Nova Laranjeiras para Beltrão comecei a vir aqui (Caic), mas depois fiquei doente e não consegui mais vir.”
Como para qualquer outra pessoa, o estudo fez muita falta na vida de Dona Alcinda. Nestes anos ela conseguiu fazer muitos progressos, reconhece todas as letras do alfabeto e já sabe assinar seu nome. Mas o objetivo na idade dela, é muito mais a socialização do que qualquer outra coisa. Wagno da Silva, coordenador da EJA, diz que esta modalidade de ensino, além do aprendizado também preza muito pela socialização das pessoas de mais idade. Beltrão tem 12 turmas e 150 alunos.
Alcinda recebeu um abraço do prefeito Cleber, ganhou, bolo flores e as crianças fizeram um corredor para cantar os parabéns quando ela passou.
“É um exemplo que a senhora está dando, aos 100 anos querendo aprender. Em nome da Dona Alcinda, que nos orgulha muito, queremos parabenizar todos nossos alunos do EJA, porque não tem idade para aprender, não tem idade para adquirir conhecimento.”
Ela mora na Rua Terezópolis, que fica perto do Caic, ia a pé para a escola enquanto podia caminhar. Depois, as filhas passaram a levá-la de carro e na pandemia ficou estudando em casa. Pelos registros da escola, a idosa está matriculada há quase 15 anos.
Estudar era um direito dos homens
Noeli Nascimento, professora da dona Alcinda, está há 20 anos no EJA, já ouviu muitas histórias e reforça que na década de 1920 era comum as meninas não irem estudar porque era um direito apenas dos homens. “Como as mulheres eram criadas para se casarem, era do homem a obrigação de manter a casa, então as famílias mandavam só eles para a escola. Elas não precisavam estudar, mas ninguém pensava, e se o homem abandonasse a mulher ou se ele morresse como seria.”
De acordo com Noeli, a média de idade dos alunos do EJA, que estão na fase da alfabetização, é de 50 anos. A maioria quer estudar para aprender a ler a Bíblia, para ir ao banco e usar o caixa eletrônico ou para tirar a carteira de Habilitação. Saber ler e escrever para eles significa independência. “Mas mais do que isso, é uma prova de que nunca é tarde para estudar.”
Fonte e Foto: Jornal de Beltrão
